15 de novembro de 2004

Troianos - Os mais raros dos soldadinhos de plástico

Marcelo Volcato

Uma das coisas mais interessantes de colecionar soldadinhos de plástico, é a possibilidade de possuir (e brincar com) brinquedos de todas as regiões do planeta, e todos os períodos da História da humanidade. Assim, sua coleção irá levá-lo um dia aos campos de batalha da Idade Média, e no seguinte, ao "veldt" sul-africano, onde seus zulus enfrentarão os boeres. É difícil imaginar uma época ou local que não tenham sido retratados em figuras de plástico. A triste exceção é o Brasil, com os nossos fabricantes, míopes, preferindo fabricar cowboys no lugar de bandeirantes, ou sioux ao invés de tupiniquins... Um dia talvez eles acordem. 

Com milhares de linhas, produzidas por mais de 80 fabricantes do mundo inteiro, é bem provável que você facilmente encontre figuras para brincar daquele período histórico que mais lhe agrada, não é mesmo? Bem, sim. Exceto se você curtir a Guerra de Tróia, e estiver procurando por troianos. Não que eles não existam, eles existem. O problema é que em mais de 40 anos, desde os anos 60, apenas três fabricantes se ocuparam desse conflito, produzindo três sets clássicos e de enorme sucesso e raridade. Vamos aos três: 

Troianos da Britains Herald

A fábrica Herald, uma das pioneiras na Inglaterra da fabricação de soldadinhos de plástico, foi comprada pela tradicional fábrica de soldadinhos de chumbo Britains, ainda em meados dos anos 60. O motivo era simples. O plástico era mais barato e seguro do que o metal, e a Britains (fundada em 1893 por William Britains) estava tentando, sem sucesso, substituir sua matéria prima. Em 1966 ou 1967 (as fontes divergem) a Britains lançou seu primeiro conjunto de soldadinhos, após a aquisição da Herald: Os troianos. As figuras foram feitas sob a supervisão do legendário Roy Selwyn-Smith, e retratavam os principais guerreiros dos dois lados do conflito: Os troianos eram Heitor e Páris (com arco e tudo), e os gregos contavam com Agamemnom (a cavalo), Ulisses, Aquiles e Ajax. Disponíveis por apenas quatro anos, e apesar do enorme sucesso na época, essas figuras são raras hoje em dia, e muitos colecionadores sonham com elas. 

Rei grego Agamemnom

Heitor, Páris, Ajax, Aquiles, e Ulisses

Troianos da Atlantic

Em 1972 a Atlantic (empresa italiana, que criou as esculturas das figuras do velho oeste atuais da Gulliver), lançou a sua versão dos troianos. Ao contrário da versão Britains, que tinha esculturas "genéricas", a Atlantic se preocupou em fazer dos seus troianos, uma representação fiel do que teve ter sido um guerreiro do período. Diz à lenda que o escultor visitou museus, consultou livros sobre o Império Micênico, e pesquisou por um ano antes de por mãos à obra. O resultado? Um estrondoso sucesso na Europa e nos EUA, mas isso não impediu que essas figuras tivessem um final ingrato... Em 1991, junto com os moldes de romanos, egípcios e gregos, os moldes dos troianos foram vendidos para o Iraque, isso mesmo, o Iraque, semanas antes da Guerra do Golfo. Os moldes estão desaparecidos desde então, presume-se que destruídos, e essas figuras custam muito, mas muito caro mesmo, no mercado de colecionadores internacionais. 


Troianos da Dragon

Foram precisos mais de 30 anos (e um filme com Brad Pitt), para que algum fabricante voltasse a se interessar pelos troianos. No ano de 2004, celebrando vendas absurdas com a série "Can Do", de figuras de diorama em escala 1/24, a Dragon (sim, a mesma Dragon que fabrica action figures) lançou um primeiro set de troianos, com as figuras de: Helena de Tróia (fundamental, mas ainda inédita), Agamemnom, Menelau e Páris. Um segundo set deve estar disponível para o natal, e inclui: Heitor, Ajax, Aquiles, e um guerreiro troiano. Feitas em número limitado, e com os moldes destruídos após o lançamento, essas figuras Dragon tem tudo para se tornar raras em pouquíssimo tempo! 

O primeiro conjunto da Dragon

O segundo conjunto da Dragon, que deverá
estar disponível para o natal de 2004

Cavalo de Tróia

Para os historiadores ele nem existiu, explicam-no como a lembrança, distorcida pelo tempo, do primeiro uso pelos gregos de uma torre de assédio... Mas a verdade, e aqui gostamos da verdade, é que a brincadeira ficaria incompleta sem um cavalo de Tróia! A primeira versão foi a Atlantic quem lançou, em 1970, mas em escala 1/72, muito pequeno para ter graça, ainda que perfeito para dioramas e wargames. Recentemente tivemos uma agradável surpresa. Uma fábrica brasileira, a Gemini, lançou um cavalo de Tróia em escala 1/32, gigantesco e a companhia ideal para conquistar cidades muradas invencíveis na costa da Anatólia... Esse brinquedo maravilhoso é vendido com figuras semelhantes a Lego, totalmente frustrantes para quem gosta de soldadinhos de plástico, mas como prova a foto, o cavalo de Tróia da Gemini não faz feio ao lado de gregos "Made in Greece", dos anos 70, da Fábrica Athena. Agora é só esperar Páris seqüestrar Helena, e brincar tudo de novo. 

A primeira versão que a Atlantic lançou em 1970

 Cavalo de Tróia da Gemini, que não faz feio ao lado de gregos
 "Made in Greece", dos anos 70, da Fábrica Athena

Nenhum comentário:

Postar um comentário