12 de dezembro de 2004

Guerra Sino-Indiana da Charbens e Cherilea

Marcelo Volcato

Hoje, passados mais de 40 anos, a simples menção da Guerra Sino-Indiana pode levantar dúvidas. Na época, em plena guerra fria, com o mundo próximo de um holocausto nuclear, ela foi notícia em toda parte. Primeira página é claro! Mas o que diabos foi a Guerra Sino-Indiana, e como ela interessaria aos colecionadores de soldadinhos? 

Bem, a Guerra Sino-Indiana envolveu a China e a Índia, em 1962, lutando pela remota fronteira entre os dois países (conhecida como Linha McMahon, em homenagem ao oficial inglês que as demarcou em 1904). Os combates começaram em outubro, mas apenas dois meses depois, com os chineses, melhor preparados, dando uma sova nos hindus, tudo tinha acabado. A China, naturalmente, com a fronteira onde ela desejava. Durante dois meses os jornais só falaram nisso, e dois fabricantes de soldadinhos (sempre a fim de faturar uns trocados), perceberam uma oportunidade para incrementar as vendas. Esses dois fabricantes eram ingleses. A Índia tendo sido uma colônia inglesa até o fim dos anos 40, é natural que a imprensa da Inglaterra desse uma ampla cobertura aos combates. Charbens e Cherilea, duas fábricas concorrentes especializadas em soldadinhos baratos, decidiram lançar suas versões da Guerra Sino-Indiana. A Charbens foi fundada nos anos 50, pelos irmãos Charlie e Ben Reid, o nome da empresa, tirado dos nomes de ambos. 
Com a idéia de oferecer soldadinhos para crianças pobres, com poucas chances de comprar produtos de Herald ou Britains, a Charbens acertou no gosto popular com figuras mal esculpidas, mas que custavam um quinto do preço dos concorrentes! A história da Cherilea é parecida, mas diferente, foi do sobrenome dos sócios que se criou o nome da fábrica. Wilf Cherington e Jim Leaver fabricavam figuras de metal desde o fim dos anos 40. No início dos anos 60, com a necessidade de passar do chumbo para o plástico como matéria-prima, os sócios então tiveram uma idéia! Transformar as centenas de moldes de figuras de metal que eles tinham, em moldes de figuras de plástico. E foi isso o que eles fizeram. Com a economia de investimento em maquinário, eles puderam oferecer seus soldadinhos por uma fração do preço das outras empresas da época. Por incrível que pareça, ambas, Charbens e Cherilea, tiveram a mesma idéia ao mesmo tempo (ou não seria um caso de espionagem industrial na terra de James Bond?). Saquinhos plásticos da Guerra Sino-Indiana para o natal de 1962. 

Charbens

A versão da Charbens era um pouco mais completa, vinha com uns acessórios de campo de batalha, que incluíam ruínas e pedaços de arame farpado, totalmente inadequados para essa guerra travada em montanhas e trilhas cobertas de neve. 

Hindus

Chineses

Campo de Batalha

Cherilea

A da Cherilea, contudo (suprema capacidade técnica), apresentava os combatentes com armas modernas, e não as da II Guerra Mundial, como os da Charbens. Ambos venderam bem no natal inglês, para produtos requentados. Os "chineses" da Charbens, por exemplo, não passavam dos japoneses da II Guerra, que a mesma fábrica vendia há anos, numa nova cor de plástico (trocaram o amarelo pelo verde). 

Hindus

Chineses

Em 1963 as figuras foram descontinuadas, exceto os hindus da Cherilea, que com seus fuzis de assalto modernos, renasceram anos mais tarde no famoso set das tropas da ONU, no final dos anos 60... É claro que as tais tropas da ONU, não passavam de uma desculpa para reaproveitar soldadinhos de várias séries em um novo lançamento. O fato de que tropas da ONU separavam israelenses e árabes desde 1967 (e eram notícias diariamente), deve ter ajudado na "criação" desse novo brinquedo. 

Numa outra oportunidade, seguindo o exemplo da Cherilea, voltaremos às figuras das tropas da ONU, que mereceram três versões em sua não tão longa e pouco gloriosa história. 

28 de novembro de 2004

Exposição 30 anos de Playmobil

Doug Bathmann

Olá amigos! No final de 2003, fui enviado à trabalho para a Alemanha, quando me deparo com um email do Alê, que dizia: "Exposição dos 30 anos de Playmobil na Alemanha - BARTH, CADÊ VOCÊ???" E não era pertinho de onde eu tinha sido enviado??? 

Antes de qualquer coisa, então, vamos começar essa matéria contando a história desse maravilhoso brinquedo - PLAYMOBIL - história essa retirada das paredes do museu, como pode ser visto na figura abaixo!!


Geobra Brandstätter - Uma história de sucesso

1876 - é fundada na cidade de Fürth, região da Bavária (Alemanha), por Andreas Brandstätter. Era uma empresa de artigos de metal com o nome do fundador.

1908 - ao assumir a empresa, Georg Brandstätter, filho do fundador, rebatiza-a com as primeiras sílabas do seu nome e sobrenome - "GEO" e "BRA" - "Geobra" (lê-se "Gueôbra"), e muda o foco de produção para Brinquedos de Metal - principalmente "cofrinhos" e telefones.


1921 - a matriz é transferida para a cidade de Zimdorf.

1954 - Hörst Brandstätter, bisneto do fundador, assume a direção da empresa, mudando mais uma vez o foco da produção - de metal para plástico. Os produtos de plástico, como por exemplo o Bambolê (de 1958) foram sucesso de mercado. 

Anos 70 - Com a crise do óleo no início da década, a empresa viu-se ameaçada pelo aumento drástico do plástico bruto. Foi aí que surgiu, finalmente, uma solução inovadora para os problemas da empresa: o PLAYMOBIL - não somente pelo seu aspecto de "novidade", mas também pelo seu pequeno tamanho, que significava economia de material e baixo custo de produção. Pela primeira vez na história, bonecos, e não elementos técnicos, formaram o centro de uma coleção de brinquedos. 

Assim, desde 1974, a Geobra de Brandstätter, registra imenso sucesso mundial com a linha de brinquedos Playmobil, sendo ela hoje uma das maiores fabricantes de brinquedos na Europa. 

O Inventor Hans Beck

Hans Beck, habilidoso marceneiro, nascido em 1929 em Thüringen (Alemanha), iniciou em 1958 sua carreira como Projetista de Brinquedos na Geobra Brandstätter. 

No início dos anos 70, recebeu a tarefa de desenvolver bonecos "simples", para serem motoristas de uma série de carrinhos que seria lançada. Em um processo que durou cerca de 3 anos (entre 71 e 73), foi criado então, por ele, o protótipo de uma figura articulada que, por fim, acabou se tornando uma linha completamente nova: Playmobil!! 

Esboços de Hans Beck e sua equipe!





1971 - Idéia de veículo com várias figuras e figura com guarda-chuva

1972 - Primeiro pensamento para um carro pessoal
1973 - Primeiro esboço de um carro para construções
1975 - Introdução no Mercado
2002 - Reedição

1977 - Figura de Criança

1978 - Chapéu de Safári

1974/1975 - Indios e Circo
1975 - Chapéus e Toucas

1971 - Primeiro Pensamento para uma Coleção

1977 - Figura de Criança

1981 - Projetos de Figura Playmobil.



Com a ajuda de sua equipe de cerca de 50 pessoas, Beck criou um sem-número de universos dedicados aos bonecos Playmobil, até a sua aposentadoria, em 1999. Pela sua criação, Beck teve a honra de ter seu busto exposto na "Oficina das Idéias" da EXPO 2000 de Hannover (Alemanha).

 
Modelo e Imagem

Os temas do mundo Playmobil são quase sempre relacionados ao cotidiano do nosso mundo real. Bombeiros, índios e fazendas têm como modelo objetos e construções reais, reduzidos e moldados à imagem da coleção. A aparência humana das figuras, sua intercambialidade e a vasta gama de acessórios tornam essa coleção especial na representação do nosso dia-a-dia. Assim, nas aulas, na auto-escola, nas revistas e na TV, essas "pequenas pessoas" foram amplamente utilizadas para contar histórias e explicar temas que seriam complicados sem seu auxílio.


A carreira de sucesso dos bonecos Playmobil

Ao contrário das coleções de brinquedos anteriores, Playmobil trazia algo mais humano nas brincadeiras. Antes disso, os bonecos eram estáticos, motoristas, passageiros, sempre dentro de coleções de carrinhos. A articulação e a possibilidade das mãos "agarrarem" armas, ferramentas e os mais diversos tipos de equipamentos foi uma grande novidade para a época e um grande desafio técnico para o inventor Hans Beck. Apesar do ceticismo inicial dos colegas de trabalho, o Playmobil foi um best-seller no mundo inteiro. Desde que as três primeiras séries - Cavaleiros, Construtores e Índios - chegaram ao mercado em 1974, foram vendidos cerca de 1,7 bilhões de bonecos. 

De Cavaleiros a Astronautas

"As figuras são adaptáveis e permitem vários tipos de brincadeira", explica Georg Brandstätter. No início, somente figuras masculinas eram produzidas, mas em 1976 chegaram as primeiras figuras femininas no mercado. Cinco anos mais tarde chegaram as crianças (com 5,5cm de altura), e um pouco depois os bebês. Atualmente, existem cerca de 600 tipos de figuras, diferenciadas entre si por roupas, forma, cor de cabelo e pele.


Do plástico surge o Playmobil - A origem

No início da fabricação de cada nova figura Playmobil, existe um desenho de projeto, que serve como base para um modelo feito com uma espécie de espuma. Tendo como base esse modelo, é feito um desenho exato para cada parte do corpo, que ganha, então, um modelo de metal injetado. O processo propriamente dito, consiste em despejar granulados de plástico nas injetoras de duas, três e quatro cores - que serão derretidas e prensadas nos moldes de metal. Após a fabricação de cada elemento, os bonecos são montados e embalados. Na área de montagem trabalham modernas embaladoras, com sistemas que minimizam desvios de produção, e que separam peças com pequenas diferenças, garantindo que todos os pacotes tenham o mesmo volume de peças. Em prateleiras gigantescas ( com cerca de 140m de comprimento, 50m de largura e 30m de altura ), os artigos prontos são armazenados até o momento de sua distribuição. 

Exposição - a cidade anfitriã

Speyer é uma pequena cidade na chamada "Rota do Vinho" no sul da Alemanha, com cerca de 50 mil habitantes. Como toda boa cidade clássica alemã, a despeito de seu tamanho, tem como ponto forte o turismo e a cultura. E, entre as atrações principais, encontra-se o chamado "Museum der Pfalz", principal museu da cidade, onde foi realizada a exposição.


Logo ao estacionar o carro já era possível ver o cartaz ao lado, anunciando a atração. É um sentimento gratificante ver que em alguns lugares do mundo é dado o devido valor ao nosso hobby.


Na parte de trás do museu, primeira imagem que se tem dele ao adentrar o centro da cidade, outro cartaz da atração.


Na praça em frente ao museu, um Playmobil índio gigante, já mostrando a qualidade da exposição e a cultura local: nenhum tipo de vandalismo, em um brinquedo que dormiu diversas noites em plena rua. Detalhe: os braços do Playmobil gigante se movem como os correspondentes pequenos!


A exposição!

Dentro do museu, na entrada da exposição já éramos recepcionados por dois anfitriões... 


E a exposição tem início... 

Ao chegar no salão inicial já é possível ver o que mais enobrece nosso hobby - os olhinhos brilhando das crianças. Como já citado, na Alemanha, o Playmobil é usado na formação, criação e educação delas.


A exposição cobria praticamente todos os temas já usados pelo Playmobil até os mais novos lançamentos.





























Assim, ao final da exposição, na saída, éramos saudados por mais dois amigos!!