Marcos Levy Pina Gouvêa Crespo
No ano de 1972, por ocasião da comemoração dos 150 anos de independência do Brasil, o sesquicentenário, a Gulliver, fundada em 1970 pelos mesmos donos da antiga Casablanca, lançou o conjunto Independência ou Morte. Tal lançamento representou uma exceção nesse segmento de figuras de plástico posto que retratava um tema nacional. A maioria das peças congêneres acessíveis no mercado, com produção industrial, tinham, via de regra, como tema, as figuras de “Forte Apache”.
A primeira coisa que chamava a atenção era a beleza da caixa que trazia o conjunto completo, e talvez aí resida seu sucesso. Trazia reproduzida a pintura de Pedro Américo de mesmo título, mas também conhecida por Grito do Ipiranga, feita no final do século XIX, portanto, algumas décadas depois do fato retratado. A caixa era de uma beleza que rivalizava com as caixas dos conjuntos da linha “Forte Apache”. Seu colorido atraía naturalmente o olhar das crianças.
O conjunto trazia 14 figuras em diferentes poses sendo oito a cavalo e seis a pé. O destaque era para a figura de D. Pedro I, a cavalo, na pose clássica do momento do grito de independência. Querem alguns colecionadores que uma das figuras a pé seja também D. Pedro mas não há consenso quanto a isso e a maioria entende que não. Os cavalos eram de dois tipos sendo um deles com base, em pose de movimentação, e o outro com as quatro patas no chão representando uma pose estática. Há referência a um outro tipo de cavalo, também com base, só que mais alongada, mas que não fazia parte do que era apresentado em catálogo. Além das figuras humanas e dos cavalos, havia também as barracas que vinham com uma bandeira do Império colada. Essas barracas em geral eram verdes mas podiam ser também na cor laranja ou em cor clara acinzentada. Eventualmente uma caixa podia trazer duas figuras com a mesma pose e faltando outra. As mantas dos cavalos e suas selas também não tinham uma uniformidade. O uniforme dos dragões a cavalo passa a impressão de fidelidade ao original embora, nos detalhes, deixe a desejar.
Infelizmente não houve um esmero da parte da Gulliver com relação a pintura, o que fez com que fossem raras as figuras desse conjunto que chegam aos nossos dias com a pintura preservada.
Uma curiosidade em relação ao brinquedo é que uma das figuras a cavalo traz a bandeira imperial. Mas isso é um anacronismo pois não existia essa bandeira em Sete de Setembro de 1822. Esse detalhe e os eventuais problemas quanto ao uniforme não tiram o brilho do brinquedo. Afinal, não existe esse tipo de compromisso, e nunca existiu, na confecção de brinquedos por parte de qualquer fábrica do mundo. Grandes e renomados fabricantes cometeram vários erros do mesmo jaez. E, convenhamos, o primeiro componente do brinquedo e do universo lúdico, de u`a maneira geral, é a fantasia.
Produzido até 1978, aí já não mais com a caixa e trazendo as figuras monocromáticas, geralmente em verde ou amarelo, e com o nome Tropas Imperiais, o conjunto Independência ou Morte é uma referência para quem tem mais de 40 anos de idade.
Imagens de coleção:
Imagens de catálogos Gulliver: