Laércio Gonçalves
Esse não é um review usual, afinal de contas foge um do padrão, que é compartilhar com outros colecionadores as impressões sobre uma figura específica, recentemente lançada, recomendando, ou não, e comentando seus pontos fortes e possíveis falhas. Temos aqui, a intenção de compartilhar uma pequena “busca pelo cálice sagrado”.
Desde a infância sempre sonhei em ter figuras de ação dos meus heróis da TV (lembro mesmo, de ter comprado meu primeiro gibi “Heróis da TV” com a esperança que trouxesse material relativo às séries que assistia), fossem os Super Amigos, o Batman (Adam West), O Capitão Marvel ou a Mulher Maravilha (Lynda Carter).
Com o passar dos anos pude comprar meus primeiros Super Powers, que para mim eram representações perfeitas dos meus heróis, seguidos por várias outras coleções. Até muitos anos após, quando a McFarlane Toys e a DC Direct chegaram para mudar radicalmente o Jogo. Essas empresas traziam figuras numa nova (para a minha coleção ao menos) escala, com ênfase nos detalhes e realismo das esculturas que deixavam minhas outras figuras muito distantes em termos de fidelidade ao material fonte. Foi amor à primeira vista.
Muitos anos depois, e MUITAS figuras depois, ainda sobram várias lacunas na coleção (colecionar consiste basicamente em observar essas lacunas e desejar vê-las devidamente preenchidas). No ano de 2013 pude me deleitar finalmente adicionando figuras da série de TV do Batman, bem como um Batmóvel na escala de seis polegadas. Nunca imaginei que veria esse dia, especialmente devido à batalha jurídica movida em torno dos direitos dessa série, envolvendo Fox e Warner, que nos privou até mesmo de DVDs originais da mesma até o ano de 2014. Finalmente pude colocar esses personagens ao lado do meu custom do Super-Homem Christopher Reeve (cuja inexistência de uma figura na escala de seis polegadas por si só já merece outro artigo). Infelizmente, sendo um dos indivíduos vitimados pelo vírus do colecionismo, imediatamente saltou-me aos olhos uma lacuna impossível de se ignorar (o que é uma contradição completa, eu sei. Como poderia um espaço vazio ser impossível de se ignorar? Só quem coleciona entende), como poderia não haver uma figura da imortal Mulher Maravilha da série de TV ao lado do meu Batman/ Adam West e do meu Robin /Burt Ward? Ultrajante! Algo precisava ser feito, e já.
Quantas vezes já havia pensado em por a mão na massa (de modelar) e fazer eu mesmo justiça? Já havia solucionado satisfatoriamente a ausência do Superman do mais clássico filme da DC/ Warner, graças à NECA em breve estará preenchido o espaço reservado por anos a fio para o Batman/Michael Keaton. Cada vez me incomodava mais a ausência dessa figura. Não havia como fugir. Mesmo sabendo da dificuldade de se esculpir numa escala reduzida um rosto feminino (e aqui não falamos de qualquer rosto feminino, mas de um próximo à perfeição), eu precisava ao menos tentar. Já que esse seria o maior desafio, deveria começar por ali, já que se não tivesse êxito, não teria perdido o tempo de esculpir todo o resto.
Depois de avaliar muito cheguei à conclusão de que a cabeça deveria ser esculpida por completo. Não havia nenhuma figura que pudesse emprestar nenhuma feição sob o risco de ficar muito distante da fonte. Passei então a reunir uma grande coleção de imagens da série de TV, a fim de fazer um “estudo” das feições, uniformes, cortes de cabelo, penteados, proporções, detalhes, expressões, cores e texturas (se o resultado não foi mais preciso, foi exclusivamente pela minha limitação como escultor, não por falta de planejamento). Percebi então detalhes que até então nunca tinham chamado atenção, como a variedade de penteados e até de cores que haviam utilizado ao longo da série. Precisava escolher aquelas que pudessem traduzir melhor o personagem que tinha em minhas memórias. Não houve sequer uma escolha fácil. Ao menos quanto ao uniforme, um (o com as asas de águia mais estilizadas) foi utilizado em mais temporadas, o que facilitou.
Gastei semanas esculpindo cabeças em massa epoxy até conseguir uma que me agradasse. Longe de estar perfeita, trazia uma semelhança que me satisfez, afinal mesmo figuras lançadas pela Mattel às vezes não trazem exatidão (como alguns julgam ser o caso do próprio Batman/ Adam West). Tudo depende demais do olho do observador. Alcançado esse objetivo, procurei um corpo que pudesse ser transformado e que tivesse proporções aproximadas. Encontrei na Mulher Gato do filme Dark Knight Rises (da Mattel) um corpo que poderia ser adaptado. Remover a textura e os detalhes esculpidos foi um pesadelo, e fez parecer brincadeira de criança esculpir os detalhes (e muito busto) que tiveram que ser adicionados. A pintura em proporções tão delicadas teve que ser refeita algumas vezes, e precisei me ater às cores e acabamentos (fosco ou brilhante) das tintas que eu tinha disponíveis, já que não há uma só loja de modelismo nessa cidade infeliz.
Acho que todo o esforço foi recompensado, e consegui uma figura à altura da minha coleção do universo da TV e cinema da DC Comics. Pensando em todo esse processo, e o que me motivou, remetendo até à minha infância e os primórdios da minha coleção, aceitei o convite do meu amigo Alexandre Nunes para compartilhar aqui essa pequena aventura. Acho que pode ser de interesse, e mesmo refletir o desejo de alguns na busca por seus “cálices sagrados”.
A seguir compartilharei fotos do processo em várias etapas, bem como fotos da figura finalizada, acompanhada de seus amigos da Liga da Justiça.
Impressionante a transformação! Parabéns!
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