15 de agosto de 2003

O Forte Apache no Brasil

Marcos Guazzelli

Qual adulto que se encontre na faixa entre 30 e 50 anos de idade não teve o Forte Apache ou algum outro brinquedo de faroeste na infância?

Sem dúvida o Forte Apache foi o brinquedo de maior sucesso no Brasil nas décadas de 60 e 70. É triste que tão pouca informação exista sobre algo que marcou a melhor fase da vida de tantas pessoas e que, até hoje, é cultuado por muitos.

Há algum tempo o álbum de fotos da minha coleção de brinquedos de faroeste fica em cima da mesa em meu escritório. Muitas das visitas que recebo acabam olhando o álbum e percebo que, embora algumas tratem o assunto com deboche, a maioria transmite pelo olhar a admiração e as boas lembranças que as fotos lhes trazem.

O principal fabricante do brinquedo – Manufatura de Brinquedos Gulliver S.A. – parece não dar a importância devida ao tema. Enquanto diversos fabricantes em todos os segmentos lutam por consumidores que cultuem a sua marca e o seu produto, a Gulliver age diferente. Nas poucas vezes em que tentei contato com a fábrica fui tratado com desinteresse e/ou com respostas secas e curtas.

A intenção deste artigo é fazer um passeio pela história dos brinquedos de faroeste produzidos no Brasil pelas indústrias Casablanca e Gulliver nas décadas de 1960 e 1970. As informações aqui apresentadas decorrem de trabalho de pesquisa informal que realizo há anos. Contudo, é provável que contenha informações imprecisas, de forma que desde já informo que críticas e sugestões serão bem vindas.

Não irei me ater a detalhes. Minha intenção é dar uma visão geral sobre o tema. E que este artigo sirva de base e incentivo para futuros trabalhos sobre o tema, trabalhos estes que poderão eventualmente se aprofundar em detalhes.

Não é objetivo deste artigo analisar as razões psicosociais para o sucesso do Forte Apache.

O Começo - Anos 60 

Apenas a título de informação inicial – o brinquedo Forte Apache surgiu nos Estados Unidos, em 1953, lançado pela Louis Marx & CO.

Há controvérsias quanto à origem do Forte Apache no Brasil. Algumas informações dizem que teria sido no final de 1963, início de 1964. Outros dizem que foi em 1966. Particularmente, me posiciono entre os primeiros.

O fato é que o fundador da Casablanca era espanhol, lançou o Forte Apache na Espanha e, posteriormente, emigrou para o Brasil, aqui lançando o brinquedo.

O Forte Apache foi sucesso imediato e logo no seu primeiro ano de operação no Brasil a Casablanca começou a ameaçar fatias de mercado de fabricantes que operavam há décadas no Brasil, como a Estrela.

O primeiro Forte Apache da Casablanca lançado no Brasil era este modelo:


O nome Forte Apache aparecia em inglês – fort – e era marcado a fogo na placa sobre o portão. Pelas informações que disponho, a inscrição em inglês – fort – perdurou até a série lançada pela Gulliver em 1974.

A bandeira não aparece na foto, mas era a dos Estados Unidos. As escadas eram de madeira, com simulação dos degraus. O mastro que aparece na foto não é o modelo original, mas é semelhante.

As paliçadas tinham os palitos na posição vertical, como é correto, e com as pontas dos “troncos” à mostra. Na época estas pontas causaram ferimentos em algumas crianças que brincavam com o produto. Com o passar do tempo, e o lançamento de outros modelos, as pontas forma suprimidas e, eventualmente, os palitos passaram a ser apresentados na posição horizontal.

A embalagem que continha este Forte Apache era esta:


Pouco tempo depois a Casablanca lançou o mesmo modelo de forte com a inscrição “Fort Apache” já no tradicional papel amarelo colado à madeira do portão do forte.

Na época da Casablanca os brinquedos eram acompanhados por uma espécie de cartaz (amarelo) no fundo das caixas do brinquedo. Todas as figuras que acompanhavam o brinquedo eram numeradas (na base ou nas costas) e este cartaz trazia a indicação de quem era quem, por exemplo: 017 – Kid Kansas, 011 – Tenente Rip Masters, 125 – Buffalo Bill, 053 – Touro Sentado. Identificar as figuras fazia parte da brincadeira.

Mais para o final da década de 60 a Casablanca lançou aquele que é, em minha opinião, o forte mais bonito de todos e, também, um dos mais difíceis de encontrar. Este forte possuía duas guaritas de madeira ao lado do portão e era o que mais se aproximava do tradicional Forte Apache da série de televisão Rin Tin Tin.

A caixa que continha o produto era esta apresentada a seguir, e há informações de que o desenho foi feito pelo então filho do fundador da Casablanca e atual Presidente da Gulliver.


O forte era este:


Nos anos finais da década de 60 a Casablanca estava no auge. Sucesso entre as crianças, vendas crescentes, novos produtos lançados. Em seu auge a linha de faroeste da Casablanca possuía os seguintes produtos:

  • Forte Apache de madeira, com 35 figuras;
  • Forte Apache de plástico, com duas guaritas de plástico e 41 figuras;
  • Acampamento Apache com 34 figuras – o acampamento apache possuía uma base circular de papel que simulava o terreno e um rio. As cabanas eram mais circulares do que as lançadas pela Gulliver nos anos 70. Quanto ao número de cabanas original que acompanhava o brinquedo, há duas correntes de opinião – 4 e 5;
  • Caravana, com cinco carroças de madeira e 61 figuras. As carroças possuíam caixas e sacos de suprimentos;
  • Fazenda Ponderosa – do seriado Bonanza, o conjunto era montado sobre uma base e continha, entre outras figuras, casa, cercas, moinho, poço e animais;
  • Virgínia City – foi o maior (e mais caro) conjunto lançado pela Casablanca. Era uma cidade do velho oeste, com casas de madeira, montada sobre uma base. Possuía, também, uma diligência e muitas figuras. Não conheço ninguém que possua este brinquedo ou que, pelo menos, uma foto dele. Com certeza é o conjunto mais raro da Casablanca;
  • Figuras avulsas.


Abaixo a foto da caixa da Fazenda Ponderosa, da caixa da Caravana, do conteúdo da Caravana e das cabanas do Acampamento Apache Casablanca.





Em 1969 um estranho incêndio destruiu a Casablanca. Nada restou, é como se a Casablanca nunca tivesse existido. Quando a indústria foi reconstruída, em 1970, surgiu com o nome de Gulliver. Por quê aventurar-se com uma marca nova e desconhecida se já existia uma marca (Casablanca) consolidada no mercado e na mente dos consumidores? O sucesso da Casablanca seria, em qualquer entidade empresarial, motivo de orgulho e de preservação. Mas a Gulliver nada fez para preservar este passado. É como se a Casablanca nunca tivesse existido. As informações que se consegue vêm da memória de pessoas que viveram naquela época ou das caixas de brinquedos Casablanca que sobraram. Se alguém que vier a ler este artigo tiver um catálogo de produtos Casablanca, agradeceria um contato.

Anos 70

Não disponho de muitas informações sobre os anos de 1970, 1971 e 1972. É um período que ainda estou pesquisando. Abaixo a foto de um dos modelos de Forte Apache deste período, ainda com a inscrição em inglês – fort – e com os palitos das paliçadas na vertical, mas já sem pontas aparentes. Este foto era do modelo mini e já vinha montado na caixa, sendo desmontável apenas a placa, que era encaixada sobre o portão. Os soldados eram pintados com casaco azul claro e calça azul escura, ao contrário dos verdadeiros soldados da cavalaria americana que usavam casaco azul escuro e calça azul clara. 


Nos anos 70 os brinquedos de faroeste lançados pela Gulliver pertenciam à Série Far West.

A imagem padrão desta série, até 1977, reproduzia o Forte Apache sendo atacado pelos índios. Um magnífico desenho elaborado pelo desenhista Nelson Reis e, provavelmente, uma das imagens mais marcantes para aqueles que brincaram com a Série Far West. A famosa imagem, que ilustrava as caixas dos fortes e de itens avulsos, era esta: 


De 1973 a 1977 a Série Far West era composta pelos seguintes produtos:

  • Forte Apache, nos modelos Grande Forte Apache, Forte Apache e Mini Forte Apache. O Grande era o modelo mais bonito e completo, inicialmente com palitos das paliçadas na vertical. Os demais modelos já traziam os palitos na horizontal. A bandeira que acompanhava os fortes era a bandeira da sétima cavalaria, e não mais dos Estados Unidos. O Grande possuía 4 guaritas de plástico, e os demais modelos 2. O Mini não vinha com a casa-quartel general;
  • Os apaches, conjunto com três tendas, índios, cavalos e canoa montados sobre uma base plástica. Neste conjunto vinham figuras de índios sentados, que eram colocados ao redor da fogueira. Este conjunto foi substituído pelo Acampamento Apache, similar ao que já existia na época da Casablanca, composto por 5 tendas, totem, fogueira, canoas, índios e cavalos;
  • Planície selvagem, que era uma base plástica com búfalos, índios e caçadores. Este conjunto ficou pouco tempo em linha;
  • A Conquista do Oeste que era composta por três carroças – na época da Gulliver as carroças já eram plásticas – índios, soldados e cowboys. Este conjunto foi substituído pela Caravana, que trazia duas carroças e duas cabanas de acampamento militar;
  • Chaparral – era o rancho, lançado em substituição à Fazenda Ponderosa. Na época, a série Chaparral era sucesso na TV. O conjunto trazia casa, moinho, cercas, animais, cowboys, cavalos, entre outros itens;
  • Itens avulsos.


A Série Far West possuía, também, itens avulsos chamados de “especiais”. Eram figuras feitas em plástico de kit, com pintura em alto padrão. Cada uma vinha acondicionada em uma caixa exclusiva. Abaixo, um dos “especiais”:


A seguir são apresentadas ilustrações do Grande Forte Apache de 1973, da caixa do Chaparral, e do totem do Acampamento Apache (na forma de item avulso).




A ilustração da caixa da Conquista do Oeste (posteriormente utilizada para a Caravana) também é uma das mais bonitas da história da Gulliver. A imagem é uma reprodução fantasiosa do “last stand” do General Custer em Little Big Horn, apresentada a seguir:


A título de curiosidade – a imagem utilizada para ilustrar esta caixa foi tirada do cartaz de lançamento do filme Custer of the West, de 1968, com Robert Shaw no papel de Custer. O cartaz do filme era este:


Em 1978 a Gulliver “repaginou” os produtos da Série Far West, e os novos modelos estiveram no mercado nos anos de 1978 e 1979. Os produtos que compunham a série eram os seguintes:

  • Forte apache em dois modelos – grande e pequeno. O forte grande já não trazia a paliçada dos fundos, sendo esta substituída por um conjunto plástico com: alojamento, comando e depósito. A tradicional ilustração das caixas dos fortes foi substituída pela foto de um menino brincando. As bandeiras foram colocadas sobre as guaritas, e a dos Estados Unidos substituiu a da sétima cavalaria. Em 1979 as guaritas foram substituídas por torres de observação. Os fortes vinham montados;
  • Acampamento Apache – as tendas passaram a ser quatro, cada uma pintada de uma cor diferente. O conjunto também vinha montado sobre uma base;
  • Caravana – a tenda militar passou a ser uma só, e o conjunto também vinha montado sobre uma base;
  • Chaparral – também montado sobre uma base;
  • Itens avulsos.


A seguir a ilustração do Forte Apache grande e do Chaparral:


1979  marcou o fim da década de 70 e, também, o fim da época de ouro dos brinquedos de faroeste. A partir de 1980 os brinquedos foram bastante reformulados.

A Gulliver mantém o Forte Apache em linha até hoje, mas os produtos lançados nos últimos 20 anos não se comparam àqueles dos anos 60 e 70.

Num próximo artigo abordarei os conjuntos lançados nas décadas de 80 e 90 e 2000.

4 comentários:

  1. sera que você sabe ,,se alguém tem ,,,fotos dos personagens ,,um a um ,,de cada forte ,,estou procurando formar uma coleção ,,e esta difícil de achar figuras originais ,então eu estou atraz de replicas ,mas eh muito difícil,,eu tinha varias peças quando criança ,,hoje eu não vi ainda muitos ,das quais se tivesse fotos ficaria mais fácil ,,,
    lima-np@hotmail.com

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    1. Nelson, minha sugestão é que você entre em contado com o Marcos Guazzelli, do site http://www.brinquedos.faroeste.nom.br/, ele é expert no assunto. Obrigado pela mensagem e abraço.

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  2. Coleciono e tenho formado quase todos sets gulliver e casablanca viocena e troll . Raros nos dias de hoje

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  3. Olá pessoal. Tenho o Fort Apache de 73, a charrete, o totem do acampamento, canoa e vários índios e soldado bem como cavalos. Se alguém tiver interesse, pode entrar em contato. Tenho tambt autorama (um dos primy, pega pega trol e outros da década de 60 e 70.

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